Quinta-Feira Santa

Fala Movimento Água Viva! Núcleo de Espiritualidade e ministério de formação na área. Quaresma chegando ao fim, quarentena acontecendo, diversas incertezas assombrando a todos e chegamos na Semana Santa. Para que o Movimento viva de forma comum disponibilizamos uma pequena formação sobre a Quinta Feira Santa e uma reflexão. Esperamos que gostem. Salve Maria!

Todo o povo de Deus está vivendo uma quaresma e Semana Santa diferente. Quando paro para refletir, o que vem primeiro na minha mente é que: Eu nunca imaginava passar por isso, não conseguir viver os sacramentos nesses dois períodos. A partir desse ponto caímos naquele velho ditado, é preciso sentir falta para dar mais valor. E realmente, durante essa quaresma me pequei pensando muito nesse assunto. Como eu, católico, preciso dar mais valor para os sacramentos. E você tem dado valor aos sacramentos? Viver bem uma confissão, e buscar o propósito de vencer um pecado. Desfazer qualquer distração durante o momento da Comunhão. Ou até mesmo buscar levar pessoas para a catequese e o Crisma.

Bem, e o que tudo isso que foi escrito a cima tem a ver com a Quinta-Feira Santa? Eu digo que tudo, talvez muito mais… Agora outra pergunta, a Quinta-Feira Santa está contida dentro da Quaresma? A Quaresma prepara os corações para viver o Tríduo Pascal. Quaresma termina quando vivemos a primeira celebração do Tríduo, que dá início ao momento litúrgico mais importante do ano no qual celebramos a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Veja que, a partir do começo do Tríduo Pascal o tempo litúrgico muda, ou seja, na Quinta-Feira Santa.

Como bem sabemos, é nesse dia inicial do Tríduo que a Liturgia celebra a instituição do sacerdócio (sacramento da ordem), a instituição da Eucaristia (Santíssimo sacramento) – A ceia do Senhor (In coenae domini), bênção dos santos óleos e o lava pés. É irmão, são inúmeros acontecimentos vividos em apenas um dia. Além de dar início ao auge da nossa fé, como já descrito. Tudo está interligado pelo corpo místico de Nosso Senhor. A liturgia vivida no Tríduo introduz de forma viva e atual o mistério da entrega de Jesus pela humanidade por um único motivo, a nossa salvação. “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade”.

Instituição do sacerdócio

Jesus deixa claro durante suas palavras na Santa Ceia que aquilo que os discípulos acabaram de viver deveria ter uma continuidade, que os que creem no Filho do Homem se reunissem e recordassem d’Ele abençoando o pão e o vinho. “Fazei isto em memória de mim”.

Instituição da Eucaristia

Com a Santa Ceia, Jesus ofereceu ao Pai o Seu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho, e os entregou aos seus. A palavra Eucaristia tem origem em duas palavras gregas “eu-cháris”, que significa ação de graça, presença real e substancial de Jesus Cristo sobre as aparências de pão e vinho. Viver a Eucaristia é a forma mais grandiosa de agradar a Deus, pois comungando ocorre de forma sobrenatural ação da graça [2].

Benção dos Santos Óleos

Faz parte de umas das cerimônias litúrgicas da Quinta Feira Santa. Nessa celebração, é realizado a bênção dos óleos utilizados pelas paroquias o ano todo. Sendo destinados para o Crisma, os Catecúmenos e dos Enfermos. Essa celebração conta com a presença do Bispo e de todos os sacerdotes da diocese. É um momento de reafirmar o compromisso de servir a Jesus.

Lava-pés

O lava-pés faz parte do ritual litúrgico que ocorre durante a celebração na Quinta Feira Santa. Jesus durante esse momento entregou os últimos ensinamentos para os Apóstolos, que é muito bem narrado no Evangelho de São João. E mostrou que necessário servir ao mundo e foi para isso que o Filho do Homem veio. Vemos que nessa liturgia eucarística, o bispo ou sacerdote vive novamente esse ato tão belíssimo do Mestre. Lava os pés e beija-os, retornando ao compromisso deixado por Cristo.

Agora escute a reflexão para essa Quinta Feira Santa e busque realizar um propósito pessoal após esse momento de oração.

Núcleo de Espiritualidade
Movimento Água Viva

Meditação para a Quinta-feira Santa

1. Um Coração que nos deseja

O Coração Eucarístico de Cristo, inflamado de amor nesta Quinta-feira da Semana Santa, quer doar-se a nós e envolver-nos no desejo que Ele mesmo tem de estar conosco.

Inicia-se na noite de hoje, Quinta-feira Santa, a celebração do Sagrado Tríduo da Paixão. Com a Missa comemorativa da Ceia do Senhor, durante a qual se realiza a cerimônia do lava-pés, a Igreja nos ambienta naquele cenáculo em que, há dois mil anos, nos foram concedidos dois dons intimamente relacionados: o sacerdócio católico e a Santíssima Eucaristia, dois sacramentos da Nova Aliança que, cada um ao seu modo, imortalizam neste mundo a presença do nosso divino Redentor.

São dons que brotam do Coração Eucarístico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós, que nos preparamos ao longo da Quaresma para a celebração deste momento, temos hoje de recordar que Jesus se preparou para tão sublime hora, não durante uns poucos dias, mas durante toda a sua vida. “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer” (Lc22, 15), diz Ele no Evangelho segundo S. Lucas. Do Coração de Cristo nasce este desejo porque, como complementa o Apóstolo S. João, “tendo amado os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou” (Jo 13, 1).

Na Última Ceia, portanto, Cristo experimenta verdadeira e profundamente, antecipando o seu sacrifício na cruz, a entrega amorosa e salvífica de si mesmo. Nesta noite santíssima, Ele toma o cálice e diz: “Tomai este cálice e distribuí-o entre vós […]. Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22, 17.20). Hoje, Ele derrama na ceia eucarística o próprio Sangue por nós, a fim de dar-nos a salvação eterna. É, numa palavra, o Sangue do verdadeiro Cordeiro pascal — e não mais a figura passageira do Antigo Testamento —, que afasta de nós a pena devida aos nossos pecados.

Mas, além de livrar-nos da punição dos nossos crimes, o sacrifício de Cristo nos faz entrar em comunhão com Deus. De fato, assim como os antigos israelitas tinham de comer o cordeiro pascal, e não só untar o batente das portas com o sangue dele, assim também nós, incorporados ao novo Israel, que é a Igreja, somos chamados a alimentar-nos espiritualmente do Cordeiro de Deus pela participação na mesa eucarística. Como escreve S. Paulo, “o cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo?” (1Cor 10, 16).

A Eucaristia, desse ponto de vista, é ao mesmo tempo sacrifício e comunhão: sacrifício salvador, que nos alcança o perdão dos nossos pecados, e comunhão de amor, que nos une e incorpora a Deus mediante o seu Filho unigênito. E tudo isso, Cristo o quis levar a cabo com toda a força do seu Coração: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa” (Lc22, 15).

Nós, porém, muitas vezes respondemos a este amor com pouco caso, indo à Missa de corpo arrastado, preguiçoso e mal arrumado. E no entanto ali no altar, glorioso e ressuscitado, está o Senhor presente, desejando ardorosamente estar conosco e fazer de nossa pobre alma o seu cenáculo. Não há, pois, maneira de imaginar nem de medir o desejo com que Ele, fornalha ardente de caridade, quer vir a nós e dar-nos a salvação.

Nesta noite santa, temos de pedir-lhe que nos comunique um pouco do seu Coração amantíssimo, a fim de nos darmos conta, ainda que com imperfeição, da vontade imensa que Ele tem de unir-se a nós. Precisamos, a exemplo do discípulo amado, reclinar a cabeça sobre o seu peito e deixar que as pulsações do seu Coração nos revelem por si mesmas o quanto somos amados. A noite de hoje, portanto, é noite para abandonar-nos filialmente à graça de Cristo, cientes da nossa fraqueza, que bem nos poderia levar, como sucedeu com S. Pedro, a negar não só três, mas inúmeras vezes o nosso amado Salvador.

Sim, todos somos como Pedro. Confiantes em nossas próprias forças, achamos que está em nossas mãos morrer por Jesus, como se fôssemos capazes de fazer algo sem o seu auxílio. Quantas e quantas vezes, com efeito, já não saímos do confessionário, dispostos a tomar outro rumo, a ter mais vida de oração, a largar este ou aquele pecado habitual, e talvez no mesmo dia, poucas horas depois, caímos nas mesmas misérias…

Precisamos, sim, todos os dias, reclinar a cabeça sobre o peito de Cristo para dali receber a graça sem a qual nada somos, para dali receber um coração novo, capaz de também querer ardentemente estar com Ele. Sem isso, acabaremos negando-o como Pedro ou, o que é pior, traindo-o como Judas.

Nesta noite, quando terminarmos a Santa Missa in Cœna Domini, com os olhos postos no SS. Sacramento sendo levado para o altar da reposição, peçamos a Nosso Senhor que nos conceda a graça de, ao menos por uma hora, velarmos ao seu lado em oração. Porque, se o seu Coração não vier em nosso socorro, seremos como aqueles discípulos sonolentos, insensíveis, lentos para crer e para amar. Se Ele não vier hoje em nosso auxílio, faremos repetir-se a mesma história: a negação, motivada pelo menor desconforto, e a traição de preferir-nos a nós mesmos ao amor de Jesus.

Hoje, Deus insiste mais uma vez em estar conosco. Porque nos ama, pede-nos amor. Porque nos quer, pede-nos que o queiramos. Hoje, vivendo a fragilidade humana até o extremo, pede que estejamos ao seu lado, consolando-o, fazendo-lhe companhia, dando-lhe o pouco que podemos dar. Hoje, não deve haver em nossos corações lugar para indiferença nem sonolência: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa”!

Fonte:
https://padrepauloricardo.org/episodios/um-coracao-que-nos-deseja

Padre Paulo Ricardo